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O agente José

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Este livro tem duas partes. A primeira é tentar perceber por que houve atitudes, ao nível da política, que aparentemente tiveram uma justificação. Mas que depois, quando começamos a tentar perceber, constatamos que as peças não encaixam. Por exemplo, a “demissão irrevogável” de Paulo Portas, em julho de 2013, um dia depois de Vítor Gaspar ter pedido a demissão, quando no Governo já todos sabiam desde 2012 que o ministro das Finanças pretendia sair. Portas demite-se na sequência de um braço de ferro com Passos Coelho, que não estava completamente explicado na minha cabeça, porque Paulo Portas nunca apresentava políticas alternativas para subsituir aquelas que não queria permitir. Ele não aceitava as medidas de Passos e Vitor Gaspar, mas também não apresentava alternativas. E mais tarde, no final de 2014, princípio de 2015, ao falar com vários protagonistas do que foi a resolução do BES e dos acontecimentos políticos anteriores e posteriores, houve muita informação que me foi dada mas que na altura guardei porque não quis interferir direta ou indiretamente no processo eleitoral que viria a decorrer no final de 2015. Achei que algumas pessoas poderiam interpretar isso como uma tentativa de influenciar a discussão política num determinado sentido. Não quis correr esse risco e guardei a informação até hoje [José Gomes Ferreira em entrevista ao Jornal Económico]

José Gomes Ferreira não quis influenciar a discussão política num determinado sentido. A saber, no sentido da coligação PSD/CDS perder as eleições. Quando um jornalista opta por guardar informação para si deixa de o ser, tornando-se num agente político.

E porquê escolher este momento específico? A restante entrevista deixa pistas para a motivação. Por um lado aponta todos os dedos a Paulo Portas. Ele terá sido, na visão de Gomes Ferreira, um actor em conluio com Ricardo Salgado. Baseia-se numa fonte, que lhe explicou tudo, para chegar a tais conclusões. Por outro lado, deixa um conjunto especulações, que a partir de certo ponto são dadas como certas, sobre Costa e Marcelo, caso tivessem estado no poder em 2013, poderem ter optado por uma solução para o BES que seria prejudicial aos contribuintes (como se a solução escolhida não o fosse). Chega, mesmo, a entrar em teorias da conspiração quanto à saída de António José Seguro da liderança do PS. E, por fim, faz a defesa em toda a linha de Passos Coelho e de Maria Luís Albuquerque.

Se for para entrar em especulações, à la José Gomes Ferreira, podemos pensar que este livro só seria para publicar mais perto das próximas eleições legislativas, mas, dado o mau momento que Passos Coelho passa, teve que ser antecipado. É o mínimo que se pode pensar de quem tenha tido informações relevantes, segundo o próprio, ou não tivesse delas feito um livro, e tenha optado por as sonegar quando eram relevantes para o momento político.


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